Paula Jordao
Quem conhece a obra de Lídia Jorge não ficará surpreendido ao ser confrontado em O Belo Adormecido com uma colectânea de contos da qual transparece um jogo de sedução entre texto e leitor ao qual a escritora nos vem habituando e que aqui é corroborado pelo efeito de imediação característico do género literário do conto.1 Directamente relacionada com este jogo encontramos igualmente a reflexão sobre temas como a memória, a identidade e o género que, embora também já habituais na sua ficção, nos são agora propostos através da clara articulação com um outro elemento: o do desejo. Ao nos oferecer seis contos sobre o desejo, Lídia Jorge confronta-nos com imagens de uma identidade e subjectividade que passam por um seduzir do outro e um expôr-se-lhe, cujo resultado é por vezes controverso, contraditório e até mesmo confrontante, como acontece com as personagens dos contos 'O Belo Adormecido' e 'Assobio na Noite', e que já de seguida irei demonstrar.