Este artigo tenta explicar a presença asfixiante de objetos, ou 'coisas', no romance A Cidade Sitiada (1949) de Clarice Lispector. Para tal, lanço mão do conceito de 'fantasmagoria do mundo das mercadorias' desenvolvida por David Frisby e o conceito, desenvolvido por Marx, de fetichismo da mercadoria, visto como um 'esquecimento' das relações sociais de trabalho. Argumento que, no contexto do Brasil, isto necessariamente inclui um 'esquecimento' de questões de raça, uma vez que, no Brasil, a modernização foi norteada por uma ideologia de branquitude: modernizar a nação era o mesmo que embranquecer a nação. Argumento também que a perspectiva eugênica de Getúlio Vargas com relação à modernização da nação está presente no romance de Lispector como um elemento não-examinado mas operacional, parte do processo de construção cultural da cidade moderna através dos olhos da protagonista Lucrécia.