Luciana da Cunha Monteiro
Este artigo enfoca os aspectos originais dos contos de ficção científica de Dinah Silveira de Queiroz que revelam a importância destes textos para a crítica feminista e os estudos de gênero na literatura brasileira. Única mulher a integrar a primeira geração do gênero no Brasil durante os anos sessenta, a autora compartilha com seus contemporâneos os traços que diferenciam os textos locais do padrão anglo-americano, em especial a atitude de desconfiança frente à ciência e à tecnologia. Vistos como potenciais ameaças à humanidade, estes avanços remetem ainda a processos imperialistas ou neocolonialistas que põem em risco os valores nacionais e o caráter pessoal das relações sociais. Queiroz, por sua vez, lançandose num campo literário tradicionalmente masculino, coloca também em foco a subjetividade feminina, questões relativas à mulher como a maternidade e as dificuldades na relação entre os sexos. Em contos que utilizam solidão e isolamento como metáforas para a distância entre homens e mulheres, a escritora sinaliza um momento de crise e aponta para a necessidade de valorização do feminino, inclusive em sua correlação com a Terra e a natureza.