Os gêneros autobiográficos (especificamente o diário e a autobiografia) apresentam particularidades na compreensão do mundo narrado em termos de intenção, consciência e construção de uma verdade. Longe de querer entrar na discussão acerca de se a representação da realidade é um campo pertinente ao discurso literário, ou ainda menos de propor a pergunta sobre o quanto de verdade há na literatura, o que aqui se pretende fazer é antes uma problematização a respeito dos aspetos formais desses dois tipos diferentes de discursos de memória (um livro de memórias, com características autobiográficas, através da análise de Dom Casmurro, e um diário, através da análise de Memorial de Aires). A partir do estudo desses dois romances, é possível lançar luz sobre a configuração do discurso de memória desde duas perspectivas distintas, que ensejam diferenças significativas em pelo menos dois níveis, o temporal e o formal.