Maria do Rosário Ferreira
Cette étude essaie d’élucider les origines historiographiques des amours de Pedro du Portugal et d’Inês de Castro, décapitée en 1353 sur ordre du père de Pedro, le roi Alphonse IV. Elevée à une grandeur mythique par des siècles de littérature apologétique d’un côté, objet d’intarissables débats historiques de l’autre, cette histoire d’amour et de mort est devenue un de piliers majeurs de l’identité culturelle portugaise. Sommairement attestée dans la production du XIVe siècle, la relation amoureuse entre Pedro et Inês a pris un développement narratif notable dans les chroniques rédigées dans la première moitié du XVe siècle. Littéraire et conceptuellement modelée à l’image des amours de Alphonse VIII de Castille et de la juive de Tolède (ouvertement condamnées par l’historiographie antérieure), et confortée par un portrait ombrageux de Pedro (identifiable au fou d’amour typique de l’imaginaire médical des passions), la version historiographique primitive de ces amours, probablement due à Fernão Lopes, puise l’authenticité dont elle se pare dans les codifications idéologiques et sociales partagées par le public auquel les chroniques se destinaient, et met l’autorité du discours qui en découle au service de la légitimation de la nouvelle dynastie d’Avis.
Este estudo procura elucidar as origens historiográficas dos amores de Pedro de Portugal e Inês de Castro, decapitada em 1353 por ordem do rei Afonso IV, pai de Pedro. Elevada a uma estatura mítica por séculos de literatura apologética, por um lado, e objeto de infindáveis debates históricos, por outro, esta história de amor e morte tornou-se um dos principais pilares da identidade cultural portuguesa. Sucintamente atestada pela escrita coeva, a relação entre Pedro e Inês adquiriu um notável desenvolvimento narrativo nas crónicas redigidas na primeira metade do século xv. Literária e conceptualmente moldada à imagem dos amores de Afonso VIII de Castela e da judia de Toledo (abertamente condenados na historiografia anterior), e reforçada por um sombrio retrato de Pedro (identificável com o louco de amor típico do imaginário médico das paixões), a versão historiográfica primitiva destes amores, provavelmente devida a Fernão Lopes, reveste-se de autenticidade pela sua afinidade com as codificações ideológicas e sociais partilhadas pelo público a que as crónicas se destinavam, e põe a autoridade do discurso que nessa base elabora ao serviço da legitimação da nova dinastia de Avis.