City of Providence, Estados Unidos
Mia Couto tem sido um interlocutor importante no processo de construção da identidade moçambicana, ao pôr em diálogo os diversos elementos étnicos, culturais e religiosos em presença no país. Este ensaio mostra de que forma a visão crioulista de Mia Couto é abordada no seu primeiro romance, Terra sonâmbula, publicado em 1992. Debruçamo-nos, em particular, sobre a representação do indiano na sociedade moçambicana pós-independência para entender de que forma esta figura problematiza os limites de um conceito de identidade que se restringe aos elementos africanos e europeus. Analisamos também o papel do Oceano Índico na construção dessa identidade moçambicana plural. Terra sonâmbula projeta uma ideia de moçambicanidade e de cidadania que se opõe à tendência para a homogeneização das experiências humanas. Mia Couto não apaga os conflitos nem nega a realidade histórica, mas privilegia, sim, a singularidade da natureza humana e o sentimento de fraternidade. Na nossa análise, fazemos uso de dois conceitos centrais para os Estudos do Índico: “fronteira” e “mestiçagem cultural”.