Neste ensaio, argumento que, em paralelo à trama ficcional de O sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho delineia um projeto de narrativa memorialista que tem como característica principal o recurso à ficção. Carvalho define o gênero textual das memórias como comprometido com a verdade emocional dos eventos (em lugar de uma verdade factual) e como instrumental à (trans)formação da identidade de quem narra. Em minha análise, examino as repetidas referências do romance aos disfarces teatrais e à presença estrangeira em São Paulo, e examino como estas referências funcionam como alegorias para o caráter plural e contraditório da identidade pessoal. Para Carvalho, a narrativa memorialista flerta com a ficção com vistas a preservar a verdade emocional dos eventos e a honrar a complexidade do sujeito (auto)biografado.