Parque Industrial is a novel that needs no classification. Crossing the barriers between two phases of Modernism, it encompasses a variety of topics such as class struggle, state repression, prostitution, economic neocolonialism, racism, feminism and homosexuality. Throughout the novel, sexual interactions abound between male and female characters, as well as between same-sex characters. In this essay, I analyze the link between the materialization of the female characters' sexual desire and the circumstances of the economic system in which they live and work. As the female characters find it difficult to build spaces for themselves due to the lack of capital, they are forced to share the domestic space with other workers, in addition to the work space. The female space is compressed by the economic exploitation of male capitalist hegemony, which imposes the coexistence of intimacy between women. Because of this dynamic, homo-affective relationships between female characters tend to be depersonalized, as they arise at the root of the imposition of the capitalist system in which women struggle, as a class, against male power. Thus, female sexuality in Parque Industrial is not based on feminist doctrines of the Brazilian elite, but on a libidinal force, expressed by a deindividualized female working class.
Parque Industrial é um romance que dispensa classificação. Cruzando as barreiras entre duas fases do Modernismo, abarca uma variedade de tópicos como a luta de classes, a repressão de estado, a prostituição, o neocolonialismo econômico, o racismo, o feminismo e o homossexualismo. Ao longo do romance, abundam interações sexuais entre os personagens masculinos e femininos, assim como entre os do mesmo sexo. Neste ensaio, analiso a ligação entre a materialização do desejo sexual das personagens femininas e as circunstâncias do sistema econômico no qual elas vivem e trabalham. Como as personagens femininas têm dificuldade em construir espaços para si mesmas pela falta de capital, são forçadas a dividir o espaço doméstico com outras trabalhadoras, além do espaço laboral. O espaço feminino é comprimido pela exploração econômica da hegemonia capitalista masculina, que impõe a convivência da intimidade entre as mulheres. Por causa desta dinâmica, as relações homoafetivas entre as personagens femininas tendem a ser despersonalizadas, porque surgem à raiz da imposição do sistema capitalista no qual as mulheres lutam, como classe, contra o poder masculino. Desse modo, a sexualidade feminina em Parque Industrial não se fundamenta em doutrinas feministas da elite brasileira senão em uma força libidinal, expressa por uma classe trabalhadora feminina desindividualizada.