Brasil
O artigo investiga como o discurso histórico brasileiro do século XIX narrou um acontecimento específico do processo de Independência do Brasil: um episódio ocorrido em janeiro de 1822, quando dez mil pessoas de diversas origens sociais e raciais se reuniram na praça do Campo de Santana, no Rio de Janeiro, para enfrentar os portugueses que pretendiam levar o Príncipe Regente D. Pedro de volta a Portugal para ser submetido ao governo revolucionário. Embora de grande importância, este evento de ativismo e mobilização popular foi pouco tematizado pelos historiadores de então, o que explica em parte quão frágil foi a sua incorporação na cultura histórica e cívica do país. O artigo busca, por meio desse exercício de análise da história da historiografia e de reflexões de caráter teórico, compreender a emergência de um novo conceito de acontecimento histórico adequado ao momento de modernização política e ao novo campo historiográfico em seus diversos graus de disciplinarização.
The article investigates how Brazilian nineteenth-century historical discourse narrated an specific event in the Brazilian Independence process: an episode occurred in January 1822 when ten thousand people from varied social and racial backgrounds gathered in the Campo de Santana square in Rio de Janeiro to face Portuguese troops who intended to take Prince Regent D. Pedro back to Portugal to be subjected to the revolutionary government. Although of great importance, this event of activism and popular mobilization was barely thematized by historians back then, which partly explains how fragile was its incorporation into the country's historical and civic culture. The article seeks, through these analyses of the history of historiography and theoretical reflections, to understand the emergence of a new concept of historical event that was appropriate to the moment of political modernization and to the new historiographic field in its varying degrees of becoming a established discipline.